quinta-feira, 25 de junho de 2015

19.06.1972

Querida Dona Saudade,
O relógio já badalou alguns outonos desde a última fita que a enderecei, porém só neste inverno percebi a minha ausência. O dia amanheceu cancelado em variações de chuviscos e acompanhado de um teto acinzentado, recordando-me o tempo em que  me trazias um fundo poço de desconforto mesclado a gotas de entorpecimento.
Confesso, minha amiga, que posteriormente a decretar tua presença silenciosa ao meu lado, parecias tão irrelevante que estava quase a planejar um enterro fúnebre. Entretanto, só quem não vives de aparências sabes enxergar as verdades por detrás do parecer, e ontem mesmo tu manifestaste presença em tons altos de melodias escritas há mais de uma década.
És extremamente entristecedor saber que tu apenas me recordas coisas que não podem retornar. Porém, és enobrecedor não me permitir esquecer alguns ensinamentos. E és exatamente por esse motivo que te escrevo após tanto tempo: em agradecimento. Somente tu és capaz de trazer-me à tona esses sorrisos oculares e suspiros cardíacos de validade superestimada. Perceber que não és apenas maléfica obriga-me a pedir-te desculpas e fazer-te promessas de escrever-te mais.

Sabes bem que não as irei cumprir, mas espero que com isso tu mesma encontre-se em si.

Abraços,
Rursus.

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