quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Elixir

Elixir
Nunca entendi muito bem a fixação do ser humano em tornar um sentimento imortal. Amor tem que ser eterno. Amizade, pra sempre. E, ainda, eles necessitam tender ao infinito, pra somente assim um sentimento ser valorizado defronte à vida. Pra se dizer que vale a pena viver, vale a pena observar, e, vejam só, vale até muito a pena invejar. Mas se a própria vida é  finita, mortal, por que nossos sentimentos teriam de ser jogados num tempo incalculável?
Pois quem nunca teve uma amizade-quase-fraternidade tão grande, tão complexa, tão  completa e tão íntima, que, de repente, com o afastar do tempo e do espaço, com o afastar do convívio e das vivências, se extinguiu? Quem irá subestimar o valor daquilo, só porque não durou a vida eterna? Já diziam por aí num desses bests-sellers da vida: “Alguns infinitos são maiores que os outros”.  Permita-me acrescentar: alguns infinitos são ínfimos. E esses mesmos, às vezes, são os que mais valem a pena. Esses que nos fazem sorrir ao ser lembrados, que nos nostalgeiam o coração e nos dão um choque de presença física. Esses que compartilhamos e fazemos invejar o próximo, esses que fazem os olhos brilharem: não são esses que se tornam eternos em nossas reles memórias?
E quem dirá do amor dos enamorados que muitas vezes enojam as criaturas apáticas e fazem sorrir algumas passageiras? Aquele amor tão fortificado, engrandecido, iluminado, que se acaba dali a mais um mês ou menos um ano. E porque se acaba, é jogado a ribanceira, é humilhado, exilado da memória. Simplesmente porque, aparentemente, não foi infinito. Mas e quando os apaixonados se entreolhavam e a distância entre os olhos, assim como a vida, se tornava atemporal, assim como as bochechas sorrindo pareciam em sintonia... Eles não estavam se sentindo infinitos? E todo o encanto dos primeiros momentos, desde frio na barriga ao nervosismo pós primeira briga, quem irá dizer que esses não foram eternos enquanto duraram?

Pois se até nossa existência é incalculavelmente insignificante, e, assim mesmo, vivemos a fazer questão de tornamos alguma coisa de nós imortal, por que, ao invés de desprezarmos os sentimentos acabados, não percebemos que alguns merecem ser eternizados? A existência mantém-se mortal, mas não precisamos fazer dela algo finito. Que se desinfinite os sentimentos, infinitando cada vez mais o nosso existir.

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