sábado, 8 de setembro de 2012

(analisando a vizinha depressiva número 1)


A garota depressiva do apartamento ao lado vai passar o Natal sozinha. Aliás, ela vai passar o fim de ano sozinha. Não que tenha sido diferente disso o ano todo. Ela passa a vida toda sozinha. Desde que eu a conheço por... Vizinha. Ela carrega livros empoeirados pra lá e pra cá, oferece um bom dia quando não está distraída e só usa aquelas sapatilhas fofinhas que todas sempre querem comprar. É curioso o quanto ela consegue ser tão minuciosa e pouco alegórica. Só de analisá-la, você pode ter certeza de que teve poucos romances no colegial e já sofreu pelos romances que ela imaginava que iriam acontecer. Algumas sardas ocupam sua face dourada do Sol. Ela estuda, tanto cursos quanto faculdades. Ela sempre parece estar estudando. E sua alma, por mais que viva de tão pouco, parece sempre... De pé, levantada. Dá pra ver no sorriso de seus olhos o quanto ela parece confiável de si. É, eu sei, talvez ela guarde suas inseguranças num lugar onde ninguém consiga ler. E como ela consegue guardá-las tão bem? Afinal, ela não me parece ser de muitos amigos. Onde ela desabafa seus deságues, suas lágrimas, seus pesares? Com quem? Realmente, quando você começa a reparar na sua real vivência, nota que ela não é tão comum quanto desigual. Acho que ela guarda muito sentimento pra pouca cabeça, mas essa é só minha opinião. Sei lá, se você considerar bem... Acho que um dia ela vai ser capaz de implodir, e, mesmo que imploda, ninguém perceberá. Nem ela mesma. Ela levará essa indecisão por um bom tempo, até que guardada em si mesma comece a despejar todos os problemas em seus atos tão incorrigíveis. Começará a chorar antes que consiga abrir a porta de casa, e esquecerá de pagar as contas do mês. Sei lá, essa vizinha é meio espaçada. Eu queria poder ajudá-la, mas sabe como é... Já passei desse estágio de inventar coisas pra embalar meus problemas até que eles desapareçam. Atualmente pratico o ato de ser vizinha de si mesma.

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